REDES SOCIAIS
Revista Científica da Ordem dos Médicos
A pandemia pelo vírus SARS-CoV-2 expôs e agravou muitas fragilidades dos sistemas de saúde, algumas já identificadas por organizações internacionais, nomeadamente as carências de meios materiais e humanos ou o insuficiente envolvimento da sociedade civil nos processos de decisão. À medida que as consequências socioeconómicas da pandemia se agravam e a fadiga pandémica se instala, outra fragilidade é posta a descoberto no espaço público e mediático: a falta de uma massa crítica de comunicação em saúde, com consequências diretas na gestão da pandemia. Comunicar neste contexto de crise e incerteza exige identificar os factos importantes a comunicar a diferentes segmentos da população, clarificar mitos e informações falsas, caracterizar as incertezas relevantes, ouvir e envolver os stakeholders e os cidadãos, desenvolver e testar as mensagens e monitorizar e avaliar as estratégias implementadas. A utilização da comunicação enquanto estratégia de apoio à gestão torna as organizações mais capazes de construir confiança, criar reputação, gerir relações com stakeholders internos e externos e de se prepararem para as incertezas do futuro, competências fundamentais para gerir uma crise sanitária. Dada a escassez de evidência científica sobre a comunicação em saúde realizada em Portugal, parte significativa da análise e diagnóstico é baseada no conhecimento empírico das autoras, adquirido através da experiência profissional, na área da comunicação, em diversas instituições de saúde. No final do artigo, as autoras propõem linhas orientadoras para pensar, desenvolver e implementar a comunicação em saúde em Portugal, nomeadamente numa crise sanitária, sustentadas numa cultura de liderança, colaboração e confiança.