REDES SOCIAIS
Revista Científica da Ordem dos Médicos
Introdução: A infecção por SARS-CoV-2 tem sido associada ao desenvolvimento agudo de sintomas mentais e comportamentais e perturbações psiquiátricas. O objetivo deste estudo foi determinar a prevalência de diferentes diagnósticos neuropsiquiátricos em doentes hospitalizados com infeção SARS-CoV-2 avaliados pela Psiquiatria de Ligação.
Material e Métodos: Realizámos um estudo transversal num hospital da região de Lisboa, em Portugal. Revimos os processos clínicos dos pacientes internados com um resultado RT-PCR positivo para SARS-CoV-2 avaliados pela Unidade de Psiquiatria de Ligação (UPL) entre fevereiro e dezembro de 2020. Incluímos dados sociodemográficos e clínicos, incluindo quinze sintomas neuropsiquiátricos. A incidência de diferentes diagnósticos psiquiátricos foi o nosso outcome primário. Explorámos também diferenças entre dois grupos: doentes com delirium e doentes sem delirium.
Resultados: Incluímos 46 casos [Idade: mediana = 67 anos; amplitude interquartil (AIQ) = 24)], a maioria do sexo masculino (60,9%). Delirium foi o diagnóstico mais frequente na nossa amostra (43,5%), seguido de perturbação depressiva major (21,7%). Doentes com delirium tiveram uma prevalência maior de sintomas de COVID-19 (delirium: 19/20, 95%; sem delirium: 14/26, 53,8%; p = 0,02), bem como um intervalo de tempo mais longo entre um teste RT-PCR SARS-CoV-2 positivo e observação pela UPL (delirium: mediana = 16,5, AIQ = 16; sem delirium: mediana = 8, AIQ = 16,3; p = 0,045). Agitação (52,2%) e sintomas cognitivos (47,8%) foram os sintomas neuropsiquiátricos mais relatados.
Conclusão: Foi encontrada na nossa amostra uma elevada prevalência de delirium. Este resultado está de acordo com literatura recente relativamente a doentes internados com COVID-19. A maior frequência de sintomas COVID-19 no grupo com delirium sugere uma possível associação entre infecção sintomática por SARS-CoV-2 e o desenvolvimento desta síndrome.